Povoado de Jiquiriçá fortalece autoestima e ancestralidade durante Caravana de Direitos Humanos em Valença

Com serviços de saúde, assistência social e documentação, a ação deixa um legado de valorização da no território
Ana Grazielle é uma jovem quilombola de 13 anos. Seu maior sonho era incluir o sobrenome de sua avó materna, que não teve oportunidade de conhecer. O processo de retificação do sobrenome foi iniciado na Caravana de Direitos Humanos de Valença, que chegou em seu segundo dia de ação no distrito de Jiquiriçá, nesta quarta-feira (28). A jovem explicou que, apesar de não ter conhecido a avó, se sente influenciada pelo seu legado de luta e resistência. “Eu sei que ela era uma mulher forte, que criou os filhos com muito amor, apesar de todas as dificuldades. Eu queria herdar uma parte dela”, afirmou.
Sua mãe, a agricultora Anamara do Amor Divino, relatou a emoção de acompanhar esse momento. “Minha mãe era uma mulher lutadora. Mesmo sem saber ler, ela incentivou os filhos ao estudo e lutava por tudo que queria. Nisso, minha filha se parece muito com ela, na garra e determinação”, declarou. Ela e o marido também utilizaram os serviços da Caravana, com a emissão da nova Carteira de Identidade Nacional. Este também foi um momento especial para outra família. A trabalhadora rural Maria Celidalva de Jesus, 47 anos, e seu filho, Eliel de Jesus, 22, assinaram pela primeira vez o próprio documento. Ao adquirir a nova Carteira de Identidade Nacional com o nome assinado a próprio punho, mãe e filho relataram um fortalecimento da autoestima. “Eu chega tô arrepiada. Eu era analfabeta, mas eu estudei e aprendi, e hoje eu assinei meu nome no meu documento”, declarou Celidalva.
Sua xará e amiga, Maria Celidalva Sereno, 64 anos, também trabalhadora rural, passou por algumas instituições na Caravana nesta quarta. Após ser acolhida e orientada pela Coordenação de Articulação de Políticas para a Pessoa Idosa, da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (CAPI/SJDH), dona Celidalva foi atendida no posto do INSS, onde reportou cobranças indevidas em sua aposentadoria. Em seguida, tirou uma nova carteira de identidade e, por fim, passou por alguns atendimentos de saúde, com exames de colesterol, pressão arterial e consulta com clínico geral. Para dona Celidalva, a Caravana trouxe uma valorização para a população de Jiquiriçá: “a gente tem dificuldade por causa da distância do centro de Valença e, às vezes, a gente vai e não tem garantia de que vamos conseguir. E hoje, aqui, fizemos tudo, sem nem precisar agendar, foi muito bom”.
Formação
A Caravana de Direitos Humanos também levou alguns processos formativos para o território. Os debates versaram sobre temas como diversidade, etarismo, políticas públicas para a juventude, ancestralidade e afirmação da identidade quilombola. Houve ainda uma roda de conversa com estudantes do Colégio Estadual Quilombola Bernardo Bispo dos Santos — anfitrião da Caravana — sobre comunicação e Direitos Humanos. Os participantes fazem parte de um projeto que está buscando criar uma agência de notícias e um podcast para a valorização do território.
Um total de 552 pessoas acessaram os serviços da Caravana de Direitos Humanos em Valença, resultando em 1.251 atendimentos. Foram 253 emissões de Carteira de Identidade Nacional; 145 emissões de segunda via de certidão de nascimento/casamento; 81 emissões de ID-Jovem; 74 atendimentos no Procon – a maioria com procuras por renegociação de dívidas; 57 consultas no INSS, entre outros. Um destaque dessa edição foram os serviços de saúde, somando um total de 237 atendimentos, sendo 72 doses de vacinas aplicadas, além de consultas e exames. A comunidade de Jiquiriçá fica a 40 minutos do Centro de Valença e reivindica mais equipamentos públicos no território. A Caravana de Direitos Humanos realizou escutas sociais com lideranças quilombolas e rurais do território para mobilizar os órgãos responsáveis e atender as demandas levantadas.
Caravana
A Caravana de Direitos Humanos é uma iniciativa da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia, em parceria com entes públicos e organizações da sociedade civil, para levar educação em direitos humanos, serviços públicos e cidadania para populações vulnerabilizadas no Estado. Participam desta edição o Ministério Público da Bahia (MP-BA); o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA); o Instituto de Identificação Pedro Mello, da Secretaria de Segurança Pública (SSP); o SineBahia, da Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre); o Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais do município, as Secretarias Municipais de Saúde e de Assistência Social de Valença. A Caravana conta também com o apoio institucional de outras secretarias estaduais: de Educação (SEC); de Relações Institucionais (Serin) e de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi); e gestão operacional da Fundação Luís Eduardo Magalhães (FLEM).
Fonte: Ascom/SJDH
/n Fonte: portaldafeira.com.br