IA transforma rotinas no processo editorial

A inteligência artificial (IA) tem se consolidado como um dos principais vetores de transformação na produção de conteúdo digital. Nos últimos anos, redações, canais de notícias e criadores independentes passaram a incorporar sistemas baseados em IA para lidar com a crescente demanda por agilidade, volume e qualidade na entrega de informações. Esse movimento reflete não apenas a busca por eficiência operacional, mas também a necessidade de adaptação às novas formas de consumo de conteúdo, que exigem personalização, atualização constante e presença multiplataforma.
Segundo levantamento do Reuters Institute (2023), 56% das redações em mercados emergentes já testam ou utilizam ferramentas de IA para acelerar fluxos de trabalho editoriais. Apontando para uma adoção crescente da tecnologia, sobretudo em projetos independentes e canais digitais. Ao mesmo tempo, surgem debates sobre a transparência, os limites da automação e a necessidade de supervisão humana constante no uso dessas ferramentas.
Nesse cenário, o avanço da inteligência artificial tem sido apontado como um fator de transformação no campo editorial, especialmente no setor jornalístico e na cobertura de tecnologia. A aplicação de ferramentas de IA generativa e preditiva é mencionada em discussões sobre automação de processos como curadoria, triagem, classificação e produção de conteúdos, com impacto nos fluxos de trabalho e na organização das equipes editoriais. Há registros de profissionais da informação direcionando esforços para a análise estratégica e a contextualização dos conteúdos, enquanto as etapas operacionais são conduzidas por sistemas automatizados.
Entre os exemplos práticos dessa transformação está o canal e portal Tecnologia Portuária, que conta com 49 mil inscritos no YouTube e adota agentes de IA para automatizar a criação de sinopses de vídeos publicados nos canais Tecnologia Portuária e Portcast, ambos no YouTube. A mesma estrutura automatizada é responsável por gerar publicações no portal, otimizadas para motores de busca e organizadas por temas.
Como resultado, os conteúdos ganham maior visibilidade no Google, o que contribui para o aumento do tráfego no site e, consequentemente, para a ampliação das visualizações dos vídeos. Além disso, o uso de IA no portal permite atualizações em tempo real, contribuindo para manter os usuários informados de maneira contínua e com menor dependência de fluxos manuais.
Hellen Xavier, apresentadora do canal, comenta: “No TP usamos bastante a IA, que nos ajuda não só a escrever os roteiros do nosso jeitinho, mas também a obter dados e insights com base no nosso próprio histórico. É como um assistente pessoal e nos ajuda a ganhar muito tempo”.
Outro projeto que integra inteligência artificial à sua estrutura editorial é o Desbugados, programa ao vivo voltado à cobertura de notícias do universo tecnológico, que em apenas um mês de existência já acumulava mais de 10 mil inscritos no YouTube. A estrutura do programa conta com múltiplos agentes de IA que atuam em etapas distintas da produção.
Um deles prospecta tendências e propõe pautas editoriais com base em dados de múltiplas fontes. Outro redige as matérias conforme o planejamento editorial. Há ainda agentes responsáveis por revisão, publicação automatizada e extração de sinopses de vídeos extraídos via API do YouTube. As sinopses geradas são publicadas diretamente no portal de notícias do próprio Desbugados, enquanto que as notícias passam ainda por uma etapa final de revisão humana antes da publicação. Os apresentadores contam com uma interface para selecionar conteúdos a serem divulgados nas transmissões, enquanto outro agente gera listas com curiosidades e insights que alimentam o programa ao vivo. Essa automação distribuída permite maior agilidade na entrega, consistência editorial e adaptação dinâmica aos temas em alta nas redes.
Ricardo Pupo, diretor-executivo da T2S e um dos apresentadores do Desbugados, comenta: “Temos múltiplos agentes atuando em conjunto — desde a prospecção de tendências até a redação final e publicação. Isso tem contribuído significativamente para a fluidez e a organização do conteúdo que entregamos semanalmente”.
Tanto o portal Tecnologia Portuária quanto o canal Desbugados fazem parte dessa nova etapa da produção editorial. A presença de ferramentas de IA nesses contextos tem sido observada como um elemento de transformação no setor editorial, em que automação e curadoria humana coexistem nos processos de produção, com foco em otimização de fluxos, gestão de conteúdos e estratégias de distribuição em ambientes digitais.
/n Fonte: portaldafeira.com.br